PROBLEMA PONTUAL
05 de Junho, 2023
O próprio PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) prevê que o cardápio da merenda deve respeitar os hábitos e cultura alimentar dos estudantes
Com um saldo de cerca de R$ 35 bilhões em caixa, a gestão Ricardo Nunes (MDB) não tem conseguido fornecer feijão para a merenda de estudantes de São Paulo.
Na cidade mais rica do país, as escolas têm recebido ervilha, lentilha e grão-de-bico -conforme orientação da própria prefeitura- em substituição a um dos itens mais comuns da refeição diária dos brasileiros.
A falta de feijão tem levado escola até mesmo a pedir contribuições aos pais dos alunos para comprar o alimento enquanto a prefeitura não garante o fornecimento.
A APM (Associação de Pais e Mestres) da EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) Professora Clycie Mendes Carneiro, no Jardim Ester Yolanda, zona oeste paulistana, pediu por meio de um bilhete, colado no caderno dos aluno, contribuição da comunidade. "Compraremos feijão para ofertar em algumas refeições, enquanto a entrega pela prefeitura não é regularizada", afirma o comunicado.
A SME (Secretaria Municipal de Educação) admitiu a falha na entrega de feijão às escolas em razão de problema com a empresa fornecedora, mas disse que não houve "qualquer perda nutricional aos estudantes".
A pasta afirmou, em nota, que contratará uma outra empresa, porém não informou o prazo para solução do problema. "Enquanto a contratação de nova empresa está em andamento, as unidades educacionais possuem recursos financeiros disponíveis e foram orientadas a realizar compra de feijão", afirmou a secretaria.
"Também houve orientação quanto às substituições por outras leguminosas, como ervilha, lentilha e grão-de-bico, que possuem composição nutricional equivalente", acrescentou a pasta.
Segundo os servidores e pais, os alimentos servidos em substituição ao feijão não são comuns ao paladar dos alunos, por isso, muitos têm deixado de fazer as refeições na escola.
O próprio PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) prevê que o cardápio da merenda deve respeitar os hábitos e cultura alimentar dos estudantes.
A Folha apurou que o problema de fornecimento começou há pelo menos dois meses, quando as escolas deixaram de receber feijão. A situação se agravou nas últimas semanas com o fim do estoque nas unidades.
"As escolas pararam de receber o feijão e começaram a racionar achando que a situação ia ser normalizada antes de chegar ao ponto de faltar. Foram diminuindo os dias que serviam feijão até que o estoque esgotou completamente agora", disse Marcia Simões, presidente do Conselho Municipal de Alimentação Escolar.
Pela lei, a Secretaria Municipal de Educação é responsável por garantir a oferta diária a todos os estudantes da rede municipal ao menos uma refeição completa, que deve ser composta de "arroz e feijão ou outra leguminosa (4 vezes na semana) e macarrão (1 vez na semana), legumes ou verduras (5 vezes na semana), carne bovina, de aves, peixe ou ovo (como fonte protéica) e sobremesa, predominantemente fruta."
"Não há nenhum problema em oferecer alimentos diferentes para os alunos. É, inclusive, desejável para que eles tenham hábitos alimentares melhores. O problema é que essa substituição está acontecendo por uma falha de fornecimento de um item básico da alimentação do brasileiro", afirmou Marcia.
Segundo ela, o problema é ainda mais grave em escolas com muitos alunos, em que as merendeiras não têm tempo ou condições de pensar em receitas e preparos diferentes para alimentos que não são tão comuns.
"Nas escolas pequenas, elas até conseguem preparar esses alimentos de forma mais atrativa, misturando com legumes ou macarrão. Mas, nas escolas grandes, não há tempo para isso e o preparo acaba sendo mais básico. Os alunos acabam não comendo e a comida vai para o lixo."
A dona de casa Adriana Carvalho, 47, afirmou que nas últimas semanas precisou mandar lanche para o filho já que ele não tem comido a merenda servida sem feijão. O menino de 13 anos é autista e tem seletividade alimentar.
Fonte: https://www.gazetasp.com.br/estado/prefeitura-de-sp-troca-feijao-da-merenda-escolar-por-ervilha-e/1124456/
NOTA DA PREFEITURA
Em relação à matéria “Com R$ 35 bi em caixa, Prefeitura de SP deixa merenda escolar sem feijão” publicada nesta sexta-feira (26), a Secretaria Municipal de Educação informa que o título induz o leitor ao erro, uma vez que não há relação de verba com a entrega de feijão. Trata-se de questão contratual pontual, cuja empresa responsável já foi descredenciada. Como a própria reportagem apresenta, as escolas dispõem de recursos em caixa próprio, que, juntos, somam mais de R$700 mil, para compra do alimento enquanto ocorre a nova contratação. Vale ressaltar que não houve prejuízo aos alunos pois o produto foi substituído por alternativas de mesmo valor nutricional.
Fonte: Prefeitura de São Paulo