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VARIÁVEIS CULTURAIS

A etnonutrição, também conhecida como antropologia nutricional e nutrição cultural, é uma disciplina que estuda as dietas de diferentes povos e culturas usando uma abordagem socioecológica. O relevo de se avaliar variáveis culturais em análises nutricionais é bem resumido no argumento do antropólogo Igor de Garine que defendia que padrões nutricionais estão sujeitos ao que chamava de viés cultural, que influencia o complexo terreno da decisão alimentar e, em uma abordagem mais ampla, o próprio desenho dos sistemas alimentares.

A primeira menção ao termo etnonutrição na literatura acadêmica ocorreu em 1984 em um texto intitulado “Anthropological Perspectives on Diet”, escrito pela antropóloga americana Ellen Messer. Antes disso, porém, destaco o trabalho da antropóloga inglesa Audrey Isabel Richards, que conduziu a primeira pesquisa sistemática sobre nutrição no campo da antropologia, “Hunger and Work in a Savage Tribe”. Já na nutrição, ainda na década de 70, os trabalhos da nutricionista Christine Wilson, da University of California, foram pioneiros em estabelecer uma relação entre as crenças alimentares e o estado nutricional de pescadores tradicionais da Malásia.

Em síntese, podemos dizer que a pesquisa em etnonutrição analisa o efeito de variáveis culturais nos resultados nutricionais sob os seguintes tópicos: (i) processos socioculturais, (ii) epidemiologia social, (iii) sistemas de ideias, (iv) coevolução gene-cultura, (v) biodiversidade alimentar.

Exemplos de desfechos nutricionais que podem estar relacionados às variáveis culturais são: indicadores de estado nutricional (ex.: antropométrico, bioquímico, clínico), indicadores de consumo alimentar (ex.: diversidade dietética, riqueza de espécies, adequação média), traços genéticos relacionados à dieta e dados de composição de alimentos.

Por exemplo, a primeira linha de abordagem de etnonutrição, i.e., processos socioculturais, busca compreender como mudanças nos processos de organização social podem gerar impactos nutricionais. Considere o exemplo de Ekesa e colegas (2020) que buscaram compreender o impacto da segurança da posse da terra na dieta das pessoas. Os pesquisadores trabalharam com dois tipos de famílias: as que tinham a percepção de segurança quanto à posse da terra e as que tinham a percepção de insegurança. Em seu estudo, a percepção de insegurança quanto à posse da terra reduziu a agrobiodiversidade cultivada e, consequentemente, a diversidade da dieta consumida. A partir dessa conclusão, os autores argumentam que as reformas de política fundiária para fortalecer a segurança da posse da terra provavelmente contribuirão para a diversidade alimentar cultivada e consumida, levando a uma melhor segurança alimentar e nutricional para comunidades vulneráveis nas áreas rurais.

A ciência da nutrição tem suas raízes na Europa e sua prática continua sendo em grande parte uma expressão cultural eurocêntrica, o que pode produzir leituras reducionistas sobre a dieta. As análises de etnonutrição são úteis porque revelam suposições sobre dietas enraizadas em nossas experiências profissionais, pessoais e culturais.  

Ao abordar o viés cultural ao qual as dietas estão inseridas, a ciência da etnonutrição lança luz sobre como a nutrição pode (i) promover dietas que podem contribuir para o bem-estar de pessoas de diferentes culturas, (ii) proteger todas as formas de vida e (iii) garantir a sustentabilidade do planeta. 

BAIXE O LIVRO 

Você pode ler mais sobre esse tema consultando o seguinte artigo:

https://ethnobioconservation.com/index.php/ebc/article/view/580/330

O livro Introdução à Etnonutrição, de Michelle Jacob, aborda com especificidade como desfechos nutricionais (ex.: estado nutricional, indicadores de consumo alimentar, traços genéticos relacionados à dieta e dados de composição nutricional) podem ser mais bem compreendidos quando consideramos a cultura em nossa forma de pensar a alimentação humana. Baixe gratuitamente em: https://nutrir.com.vc/horta/Etno.pdf 

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